terça-feira, 29 de junho de 2010

Fotografar




A tempos queria escrever algo sobre fotografia, algo que não fosse elogiando essa técnica que é pura técnica, e não arte, algo que fosse denunciativo, que criticasse o seu andamento atual, algo que não acrescentasse nada ao processo presente dos fotógrafos.
Pois bem, resolvi tentar! E para iniciar, tenho que elogiar, em um primeiro momento, aqueles que fazem da fotografia um modelo sustentável de vida, ou seja, algo que lhes dê lucro. Receber lucro é algo gradativamente gratificante, principalmente quando esse “gradativamente” cria a real possibilidade financeira e material de conseguir êxito frente a “um mói” de oportunistas amadores que adentram no mercado não pela competência de sua obra, e sim pela sua competência de bajulação e coisas do tipo.
Fotografar é registrar o presente para o futuro, é marcar um determinado período a partir de uma determinada tecnologia, é historiar e eternizar determinado acontecimento. Em tempos não tão primórdios não existia a facilidade atual em fazer registros, pois o valor monetário atribuído a um simples equipamento fotográfico não estava ao alcance de todos, e sendo assim, nem todos registraram suas histórias.
Mas, como sabemos, a atual conjuntura econômica e tecnológica mudou bastante, e são muitos os que hoje têm acesso a tal parafernália, e são muitos os que consequentemente a usam para registrar, eternizar e historiar seu presente.
Diante disto, podemos notar que antes o paradigma de fotografar tinha outro sentido, talvez artístico, mas sempre atrelado à questão estética, e que hoje todos os valores foram fragmentados no ar, acabou um sentido e outro foi inventado, mas a estética continuou a ser o principal foco.
Jovens e pessoas não jovens passaram a fotografar todo dia, e em muitos casos o dia todo. Todo o resultado desses cliques vai parar em algum site de relacionamentos, e com biquinhos, franjinhas e “V” de vitória, os amadores vão se tornando populares, e por se tornarem populares com seu besteirol juvenil, acreditam poder adentrar no mercado profissional.
No mercado profissional, tais amadores logo sentem que, apesar de um bom equipamento, falta não apenas experiência, mas também “jeito real” para a coisa, a famosa competência. Mas são insistentes, e sabem que a partir da bajulação podem chegar ao seu objetivo.
Com o intuito de chegar aos seus objetivos, os amadores que agora se sentem profissionais, irão bajular e ocupar, encharcando o mercado, tirando a partir de cachês ridículos a real possibilidade de um profissional se sustentar, “vulgarizando o espetáculo” de registrar, passando-nos um certo tipo de intelectualidade e dom artístico que é falso, passando para os seus espectadores uma nova forma de registro que, por sinal, é vulgar.
Normalmente aquilo que se torna popular ganha novos paradigmas, como a fotografia ganhou, o que de fato não é problema... Porém, a técnica de fotografar perdeu parte da sua naturalidade, tornando-se algo falso, não proposital, patrocinando ou motivando a juventude a transformar seu presente em algo que não aconteceu propositalmente, e apagando, ao mesmo tempo, o que deve motivar mais: o trabalho do real fotógrafo.

Um comentário:

Hanover disse...

Concordo com esta conclusão. Mas seria bom esclarecer que ela não deve servir como base de critério do que seria uma fotografia boa ou ruim. É fato que um profissional está mais apto que um amador à chegar, por meio de consenso natural, no que seria uma fotografia de qualidade. Acontece que hoje, com o avanço tecnológico, o amadorismo por assim dizer não mina a possibilidade de competência nem o profissionalismo garante a qualidade. Isso sem contar que o valor subjetivo da fotografia é o critério primordial de quem deseja possuí-la. Ou seja, no entendimento de alguns, não importa quem capturou a imagem ou que ferramenta e técnicas foram utilizadas, mas sim o que ela te representa.