segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Faça você mesmo! O quê?





De fato, a intenção real daquilo que foi exposto como debate no último dia 30 de agosto de 2009, no Espaço Mundo, ficou de difícil entendimento, visto que debate é aquilo onde pessoas apresentam ideias e essas são discutidas ou questionadas, pelo menos no meu ponto de vista.
O suposto debate seria sobre “cena underground atual”, e teve como “facilitadores” três rapazes: Alan Porcão (RS), Gustavo (RJ) e um terceiro que não me recordo o nome, sendo organizado pelo “O Farol”, coletivo criado por adeptos da música alternativa underground, no intuito, segundo eles próprios, de levar ao “público a contracultura e a divergência através de música, palestras, debates”.


Em suma, a proposta de tecer comentários sobre a atual cena é legal, mas quando essa proposta foi levada à prática foi um tanto quanto constrangedora, pois as propostas não fluíram, e aquilo que supostamente deveria ser um debate logo se transformou em uma ego-história daqueles citados acima.
Dentro dessa ego-história a apresentação adentrou no ponto chave, não sobre a cena underground atual, e sim sobre “DIY” (do it yourself). Nesse ponto algumas considerações foram feitas, e a digestão não foi muito agradável.
Tal fato se assemelha ao apontamento dos palestrantes sobre o que “deve ser” o underground, ou o entendimento sobre o que é punk! Infelizmente, como muitos dos demais simpatizantes do underground, aqueles que estavam a “discursar” desejavam uma realidade idealizada e utópica baseada em comunicação, engajamento e numa suposta consciência, apontando a atual realidade como “vazia”, inexistente e alienada (e é?).


Logicamente, tais apontamentos estão longe de não serem concretos, no entanto não é só o “underground” que sofre com a fragmentação das idéias, e sim tudo e quase todos que estão ao seu redor (faculdades, instituições públicas), justamente porque a necessidade de engajamento, luta e discurso ativista caiu em desuso nessa cena pós-moderna, sendo essa postura substituída por outros segmentos mais líquidos e sem projetos de identificação a longo prazo. Em outras palavras, o que você é hoje não precisa ser amanhã.


O interessante é que o tom com que se levou esse debate foi de pura nostalgia, como se “nas antigas” o círculo das ideias relacionadas ao underground fosse de fato verdadeiramente positivo para a construção de uma sociedade livre e realmente democrática. Quando a suposta solução para essa juventude “apolítica” foi apontada pelos palestrantes, a experiência narrada por estes não enriqueceu em nada o suposto debate, pois os mesmos não deixaram claro como caronas, gritos, tradições gaúchas, sociedade sem cigarros, dezenas de organizadores, público pagante, donos de bar, deixar a namorada, largar a universidade, poderiam ser uma solução para “uma sociedade underground em decadência”. Sendo assim, logicamente e sob a minha visão, respeitando a “coragem” daqueles que estavam a propor as ideias, não falaram nada com nada!
Criticar o paradigma atual do underground musical de fato é necessário e urgente, porém a critica deve ser seguida de argumentos que tenham alguma finalidade, pois quando isso não acontece apenas se reforça a própria teoria criticada como alienação underground, pois não basta só gritar, tem que saber o porquê do grito, e como argumentei, no “faça você mesmo”, podemos fazer muita coisa, inclusive nada!!!