sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Entre traídos e traidores








Dentro de uma perspectiva saudosista, lembro-me de discursos inflamados sobre o que fazer ou sobre o que deixar de fazer, sobre comportamento, sobre música marginal. O engajamento não foi necessariamente uma moda, porém posso afirmar que era uma tendência muito forte em meados dos anos de 1990.
Neste meio, teorias eram aplicadas, construídas, moduladas e postas sempre em debates, que poderiam resultar no desenvolvimento da retórica underground, ou em um discurso demagógico e ditatorial.
É nesse meio que identificamos crises paradigmáticas sobre o Hardcore, sobre o Punk e os segmentos que os seguem. Uma cisão entre correntes, na qual as bandas raízes e de discursos parecidos vão ser divulgadas ora como “For Fun”, ora como Hardcore, ou Real Punk.
Pode não ser de sua época, pode não ser de seu conhecimento, mas quem nunca ouviu falar (ou leu por aí) que bandas consagradas no underground pessoense são traidoras? Na minha adolescência isso era muito comum de se ouvir! O grande problema é saber o porquê desses serem propostos como traidores.



Esse discurso é um tanto vazio e reacionário, visto que traidor é aquele que trai, e que nesse caso, portanto, trai não só um conjunto de idéias, mas sim todos aqueles que estão dentro do contexto, ou seja, o público e afins.
O grande enigma é que os punks se sentem traídos, só que os hardcores não se identificam como traidores. E no meu ver não existem traídos ou traidores; na minha verdade, não existe uma propositura formada sobre o que é ser livre, e o que é respeitar a liberdade.
Alguns defendem que a liberdade musical proposta pelo Punk Rock só pode ser conquistada pela construção de uma blindagem, que os protegeria da moda, da mídia e de outros processos. Só assim o Punk Musical poderia manter sua essência filosófica de reclusão social, de anti-social.



Por outro lado, existem outros que não adotam tal roupagem, e querem levar o veículo musical punk ao conhecimento público e a uma amplitude maior, resultando na massificação do estilo, mesmo não sendo culpa desses.
De fato, bandas “for fun” do cenário hardcore paraibano são verdadeiramente bandas boas, com uma imagem positiva e com uma roupagem que as veste muito bem, repassando a cultura do protesto de forma simplista, mostrando que, mesmo anos depois do nascimento do furacão, não abandonaram a filosofia; na verdade, só souberam fazer as adaptações necessárias para se tornarem sempre atuais frente ao contexto vivido.
Já aqueles que se sentem traídos vão continuar com a mesmice discursiva, de que o Hardcore deve ser exclusividade e reclusão, baseando-se em dogmas para construírem blindagens. Os novos tempos são uma realidade, e cabe ao mais adaptativo plantar suas sementes e colher seus frutos.


Quem nunca foi traído que dê o primeiro acorde. E quem nunca foi traidor grite a primeira frase de ordem.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008


Livre?

Muito provavelmente o mundo leva 24 horas para completar o movimento de rotação. No decorrer desse processo foram gastos 86.400 segundos. Nessa finidade temporal minúscula, muitos se consolidarão mortais ou não, ao menos durante mais um movimento de rotação.
Mortais são pessoas que lutam contra os outros, contra si mesmo e contra sua imagem e sua semelhança. Aguerridos como são tais mortais podem levar cerca de 86.400 segundos para destruir, aniquilar, criar muros lhe impedindo de algo, ou seja, outro movimento de rotação.
“Algo” pode ser uma coisa que não lhe vale a pena, ou simplesmente o contrário. O contrário, ou diretamente “do contra” são aqueles, que como eu adoram debater, instigar debates, pensar duplamente na contramão e se achar livre.
Livre é um adjetivo (depende) que mesmo depois de 819.936.000 segundos não consigo entender! Tal falta de entendimento me deixa mais injuriado pelo fato de que muito provavelmente nós próximos 86.400 segundos ou mesmo nós 3.158.784.000 segundos permanecerei sem entender!

Livre?